Quando Aristóteles afirmou que o homem é um animal político,
poderia ter acrescentado: com senso
estético. Teria dito tudo. Não por acaso, das pinturas rupestres aos
grafites urbanos, a arte sempre está presente em toda parte. Por mais violenta
e absurda que seja a realidade que nos cerca, sempre encontramos um meio para atenuar
(ou denunciar) o sofrimento com algum tipo de intervenção artística. Domenico
de Mais é taxativo: “De todas as formas de expressão humana, a estética é
aquela que, mais do que qualquer outra, é responsável pela nossa felicidade”.
Se a beleza é, como queria Stendhal, apenas
a promessa da felicidade, é
lícito perguntar: como viver sem ela?
Mas chega de
erudição de Almanaque Biotônico.
Vamos ao que efetivamente importa. Desde o dia 22 do corrente, encontra-se à disposição
de quem tiver interesse a exposição fotográfica “As cores da Serra Vermelha”,
de André Pessoa, um dos mais respeitados fotógrafos brasileiros. Não se trata
apenas de um punhado de belas fotografias sobre um mundo perdido no coração do
semiárido piauiense. Trata-se, na verdade, de um gesto político de grande
alcance. Mais que mostrar as belezas da região, André nos mostra o quanto a
associação entre capitalismo selvagem e política rasteira pode ser perniciosa.
A Serra Vermelha vem sendo objeto de uma acirrada contenda entre empresários
que querem reduzi-la a carvão e ambientalistas que lutam por sua preservação. O
ex-governador Wellington Dias não pensou duas vezes antes de fazer sua escolha:
apostou suas fichas no projeto dos empresários da morte. Adversário ferrenho da criação do Parque da
Serra Vermelha, usou todo o poder de que dispunha para inviabilizá-lo. O parque
(ainda) não foi criado.
A questão se
arrasta desde 2006, quando a JBCarbon conseguiu do IBAMA autorização para desmatar
78 mil hectares de mata na serra. Paradoxalmente, o nome do projeto é “Energia
Verde” que, em tese, consistiria na “exploração racional” de 13 lotes. A cada ano, um deles sofreria “um
corte monitorado”, permitindo a regeneração das árvores em apenas 13 anos. Os
resultados iniciais revelaram que, entre teoria e prática, há espaço de sobra
para “tenebrosas transações”. Para quem ainda não sabe, além de ser uma área de
recarga, a Serra Vermelha contém espécies remanescentes da Mata Atlântica.
Acrescente-se a isso uma biodiversidade ímpar em todo o nordeste brasileiro.
Nesta
exposição, André Pessoa se nega a ser apenas um excelente fotógrafo da natureza;
assume sua militância em defesa da vida com os meios de que dispõe: o olhar
atento, as lentes potentes e a palavra afiada. A exposição consegue, a um
tempo, ser o registro das belezas da serra, uma denúncia contundente e um convite à
reflexão. Em se tratando de um cidadão da estatura do André, nenhuma surpresa.
Sua arte é sempre bela e incômoda como deve ser toda arte comprometida com a
vida.