Há coisa de três anos, venho
fotografando flores nos monturos de Teresina, passatempo de velho. Já tenho
material suficiente para publicar um livrinho com essa beleza sazonal e efêmera
que não se mostra aos olhos apressados. A experiência já me rendeu uma
exposição itinerante e algumas histórias engraçadas. Há poucos dias, numa manhã
de domingo, eu fotografava as pequenas flores nas proximidades do Riverside, quando passou um conhecido, parou
o carro e, com ar de galhofa, perguntou: “Está procurando ouro no lixo, professor?”
A exemplo do velho coronel da Chapada, “dei o calado por resposta”.
No início da semana passada, resolvi
levar o projeto a um número maior de pessoas: fiz uma reportagem sobre flores
dos monturos de Teresina para ser exibida no programa Feito em Casa. As imagens falam por si sós. O resultado me deixou
bastante satisfeito. De quebra, ainda ganhei este arremedo de crônica.
Segunda-feira, às 9 horas, na Rua Visconde da Parnaíba, filmávamos um terreno
baldio recoberto de salsas de todas as cores, inclusive azuis, raras e belas.
De repente, para um automóvel de luxo e uma madame, com ar assustado, baixa o
vidro da porta é pergunta: “Tem algum
cadáver aí?”. O motorista que conduzia o carro da TV Cidade Verde respondeu: “Tem, mas ainda não localizamos”. A cidadã
arrancou de vez, queimando pneus no
asfalto.
O pessoal da equipe de reportagem
começou a rir. Pensando bem, como na letra daquela velha canção, “o que dá pra
rir dá pra chorar”. A atitude da senhora assustada, em seu carro de luxo, permite-nos
fazer duas leituras. A primeira: hoje, todos nós, independentemente do estrato
social, estamos apavorados, vazando adrenalina por todos os poros, prontos para
fugir ante o menor sinal de ameaça. A segunda: a TV brasileira, com raras
exceções, optou por mostrar o chamado “mundo cão” com toda a crueza que o caracteriza.
Os telejornais exibem, em sequência, furtos, sequestros, estupros e mortes, com
requinte de sadismo. Quanto mais sórdida a notícia, melhor. Depois de assistir
a um dos telejornais da noite, qualquer um, temos a impressão de que o mundo
está prestes a se acabar. Melhor esperar rezando.
Alguém que, como eu, atreve-se a
mostrar a beleza singela das flores de monturo, quando poderia estar exibindo
cadáveres insepultos, não passa de um “desocupado ou alienado”. Estou ciente de
que corro o sério risco de ser processado por flagrante atentado ao despudor
reinante. Fazer o quê? Como diria meu irmão “menos louco”, Edison do Ministério
de Nossa Senhora, “cada um, para o que nasce”. Nada além.