A vida aqui só é ruim porque se ganha em real, o que nos deixa bem próximos da realidade. Mas pelo menos podemos sonhar em euros, já que não temos mais cruzeiros e sobra cruzados nos apontando suas canhoneiras.
sexta-feira, 17 de junho de 2022
A vida é bela
domingo, 4 de julho de 2021
Santo Antônio casamenteiro
Na minha linda infância no velho Junco ninguém festejava o dia dos namorados. Num território arcaico, namorar era coisa de vadias. Mas a mulherada gostava de atanazar o juízo de Santo Antônio na véspera do seu dia, na beira da fogueira. E haja santo dormindo de cabeça para baixo! Haja brasa da fogueira a ser jogada na bacia de água fria!
"Eu vou me casar com quem? O
primeiro nome começa com a letra A? Letra B?"
domingo, 25 de abril de 2021
Por que Lampião não passou no Junco?
- Lampião passou por aqui?
- Não, não passou. Mandou recado, dizendo que vinha, mas não veio.
- Por que Lampião não passou por aqui?
- Ora, ele ia lá ter tempo de passar nesse fim de mundo?
Antônio Torres in Essa Terra.
"Lampião não foi, mas se tivesse ido não ia encontrar ninguém pra molestar", me disse o meu pai quando lhe perguntei sobre o malogro de Lampião. "O povo todo correu para as roças, se escondendo debaixo da cama. Quem tinha casa na roça. Os da rua fugiram para Serrinha, Biritinga e Nova Soure e só voltaram duas semanas depois. Êta povo corajoso!"
Depois dessa conversa fui pesquisar o porquê de Lampião não ter cumprido a sua promessa. O povo do Junco não merecia. Ademais, Lampião não era de faltar com a palavra. Então, baseado em fatos reais (lembrando de que a literatura é a realidade paralela) encontrei o verdadeiro motivo que levou o rei do cangaço a desfeitear o povo da minha terra.
No Junco de antigamente, então um lugar esquecido por Deus e pelos governantes, só havia um velho soldado conhecido como “Quarenta”. Ganhou esse apelido por causa da sua mania de chamar polenta de “quarenta”. No início ele não gostou, achou que era um desrespeito à sua autoridade, mas quando viu que teria que prender toda a população, resolveu se fazer de mouco. O tempo foi passando, ele se acostumando até o dia que incorporou de vez o apelido ao nome e passou a se apresentar como “Soldado Quarenta”.
Como o lugar ainda era distrito de Inhambupe, o Soldado Quarenta assumia a função de juiz, delegado e soldado. Só não assumiu a de escrivão porque era analfabeto. Gostava de desfilar garbosamente com sua farda rota, exibindo uma velha pistola de dois canos, chamada de “dois tiros e uma carreira”.
Nesse dia que Lampião disse que ia e o povo achou que ele não foi, antes de invadir o lugarejo ele reuniu a cabroeira na entrada para traçar um plano de invasão. O rei do cangaço era precavido e não queria ser surpreendido como fora em Mossoró, no Rio Grande do Norte, onde teve que fugir feito ladrão de galinhas. Tinha que saber quantos soldados estavam à sua espera. Aprisionaram um fugitivo retardatário e o espremeram feito um de umbuzada:
– Tem quantos “macacos” no povoado? – perguntou Lampião, apertando a goela do pobre coitado.
– Tem muitos não, meu capitão! – respondeu o morador, trêmulo e sem conter a expressão de terror – Só tem Quarenta!
Lampião resolveu contar seus homens: dezoito! Empurrou o “informante” para o lado, pegou seu embornal, colocou a espingarda em bandoleira e ordenou:
– Vamos embora que estamos em desvantagem numérica! Também, roubar pobre é pedir esmola pra dois!
O morador foi libertado e voltou bambo para casa, mas saboreando o orgulho de ter sido capturado e solto pelo legendário chefe do cangaço. Queria contar a todos e talvez virasse nome de rua ou de escola, mas não havia ninguém no povoado. Até o valente Soldado Quarenta fora abduzido por um disco voador, e durante semanas o fedor de mijo e de merda ficou impregnado nos lugares em que nosso herói passou.
sexta-feira, 23 de abril de 2021
PÁTRIA DE CHUTEIRAS E PRAGMATISMO POLÍTICO
A vantagem dos anos pares é que em alguns deles há Copa do Mundo e Galvão Bueno com sua fórmula mágica para ganharmos a Copa sem combinarmos com os adversários. Futebol, o ópio do povo, dizia Marx, meu vizinho. Depois da Copa do Mundo de Futebol vem a parte mais interessante na nossa vida: os comícios. Neles, depositamos todas as nossas esperanças e frustrações, vez que a seleção brasileira só é decepção nas últimas Copas. A fé de que algo vai mudar se renova a cada discurso nos comícios. A pandemia nos privou da companhia de Galvão Bueno por uns tempos, mas dos políticos, infelizmente, não. - Minha gente, nessa cidade tem luz? - pergunta um candidato em cima da carroceria de um caminhão improvisada como palanque numa cidadezinha qualquer. - Nãããããooooo!!!!! - responde o povo numa única voz. - Tem água? - Nãããããooooo!!!!! - Tem médico? - Nããããããããããããooooo!!!!! - Então por que vocês não se mudam dessa porcaria?!! - !!!! - Êta povo besta, meu Deus! - exclama Carlos Andrade ao burro que vai devagar acompanhando a multidão no grito de guerra que se ouviu logo depois: Mitô! Mitô!...
quinta-feira, 28 de janeiro de 2021
Surpresa!
quarta-feira, 16 de dezembro de 2020
Um conto de fada sem princesa
Seu nome era Maria da Luz e numa manhã de conspiração de Santo Antonio conheceu Tonho de Lisboa com quem se casou uma ano depois. Tiveram dois filhos, um casal. O menino foi batizado Tonho de Lisboa Júnior; a menina, Maria da Luz Júnia. Seria uma daquelas histórias que terminam no "e foram felizes para sempre", mas quem consegue ser feliz carregando uns nomes desses?
Quero meu Natal de volta!
A Covid também acabou com o que existia de mais cristão no Nascimento de Jesus Cristo: os parques de diversões nas praças, com vendedores de maçã do amor, roletas, tiro ao alvo, Monga, a mulher macaca, e a paquera no serviço de alto-falante anunciando páginas musicais:
segunda-feira, 14 de dezembro de 2020
O carrossel
Eram tempos arcaicos, mas a felicidade era autêntica.
terça-feira, 1 de dezembro de 2020
Fábula moderna com moral da história
Era uma vez, numa história sem rei e sem grilos falantes, um cidadão chegou na casa de um compadre para uma visita de dois dias e se estabeleceu a longo prazo. Foi ficando, ficando, ficando, na maior cara de pau, e o compadre se incomodando, a mulher do compadre se chateando, os filhos do compadre reclamando da falta de espaço - até o cachorro do compadre parou de balançar o rabo - mas ninguém tinha coragem de mandar o cidadão embora.
quinta-feira, 15 de outubro de 2020
A quadrilha periódica
domingo, 6 de setembro de 2020
Independência ou morte
domingo, 30 de agosto de 2020
Seis anos sem Ariano Suassuna
Na bienal do Livro de Brasília, em abril de 2014, Iara Maria Ramires Melo, Marcelo Torres, Maurício Melo - pai do Maurício Melo Júnior - e eu, paramos numa birosca pra fazer um lanche. Lamentávamos não haver mais convites para a palestra do Ariano Suassuna, um dos homenageados da bienal. De repente parou uma senhora, nos olhou e perguntou:
- Vocês querem dois convites
pra palestra do Ariano Suassuna?
Como não querer?
- Claro que queremos!!!
Ela nos entregou dois
convites. Iara explicou a Marcelo como me entregar a domicílio - eu era hóspede
do casal Melo - nos despedimos e saímos
correndo. Estava em cima da hora.
Atravessamos uma daquelas
pistas imensas e movimentadas (segundo Marcelo é a maior do mundo, mas tive
minhas desconfianças porque esse meu primo já chegou achar que o Junco era a
melhor cidade do mundo pra se viver) nos arriscando a sermos atropelados e
chegamos a tempo de sermos os últimos da fila.
Lá dentro, uma multidão.
Faltava chão para sentar. Descemos as escadas - pisa daqui, empurra dali - e
paramos na segunda fileira das cadeiras. A primeira estava bloqueada. Sentei no
colo duma dona e Marcelo escolheu o colo de um paraibano que disse matar e
morrer por Ariano. Mas foi coisa rápida, não deu nem pro meu primo esquentar o
colo do cidadão: dois caras sentados na segunda fila eram ôtoridades do governo
e foram chamados para fazer parte da mesa. Assim, antes que alguém tomasse a
dianteira, Marcelo e eu invadimos a ala vip e ouvimos a palestra de primeira
classe. Ou melhor: de segunda fileira.
E foi mais de uma hora de
êxtase pleno. Pena que não haverá mais Ariano para alegrar a monotonia de
palestras de bienais e feiras de livros.
segunda-feira, 17 de agosto de 2020
O despertar do poder feminino
domingo, 16 de agosto de 2020
Fatalidade
Nem só de Covid 19 se morre hoje em dia:
- Coitado do nosso amigo Alceu, morreu de catarata!- E catarata mata?
- A do Iguaçu, sim. Despencou lá de cima.
Uma short history de uma short history
Quando eu fiz quinze anos a minha mãe me perguntou: