sexta-feira, 24 de outubro de 2008

1 NOSSA CRUZ DE TODO DIA


I

De braços abertos eu te protejo

E te abraço em férreos braços...

Purifico-te em banhos de cheiro.

Cheiro de alecrim, cheiro de açucena,

E afasto o perigo com o espinho do calumbi.

Estarei sempre alerta a te proteger

Como a mãe protege o seu rebento;

E lúcido para te guiar pelos labirintos do mundo

Como se fosse a mão de Deus

Conduzindo invisível Seus filhos desgarrados.


Quando te sentires forte o suficiente

Para guiar teus próprios passos

Por este mudo errante,

Uma vez partido e decidido teu destino,

Peço-te que não radicalizes

Como o Tempo que anda sem olhar para trás

E sem esperar por ninguém...

Não tenhas mágoas do teu passado,

Pois ele será sempre o teu presente

E estará presente aonde quer que vás.


E se um dia,

A solidão diáfana te abraçar

E não mais saberes por onde seguir,

Peço-te que voltes, mesmo trôpego,

Trazendo na mala uma medida do Bonfim

E amarre-a no meu corpo para ti desnudado,

Antes de te ajoelhar e de te benzer,

Antes mesmo de depositar os teus presentes

No meu carcomido pé;

Depois me abrace, me afague,

Possua-me como se eu fosse tua última amante

Ao qual darias o teu último beijo.


Talvez assim

A minha solidão contundente

Não mais me ferirá

Como te feriu um dia

O espinho do calumbi.





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