V
Aqui não se vende esperança,
Nem afago, nem aconchego;
Vende-se camisa de casimira
Para se ir à missa aos domingos
Ou pano para tecer mortalhas
Dos que sucumbem ao peso da vida.
Vende-se sandálias macias
Para não machucar o chão
No pisar bruto de pés calejados
Da labuta abrasadora.
Sandálias de pescador,
Casa de mercador...
Dentro, tem de tudo um pouco:
Mel de abelha de urucu,
Rosário de ouricuri,
Mangaba do tabuleiro
E fruta de mandacaru.
Tem também a fome
Dos que se encostam nas paredes
A escutar amargurados
O arrastar pachorrento do tempo
Que vive sem pressa de chegar
E chega sem pressa de passar,
Sem pressa de mudar o destino
Ou a fome de quem já não a sente.
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