Lindenberg, antes de ficar doido, era um cidadão importante e nunca faltaram elogios aos seus conhecimentos. Se bem que, naquela época, o Junco dormia à luz de candeeiro e acordava com a buzina do ônibus de Zé do Padre chamando o povo para uma viagem além da Ladeira Grande. Lindenberg era, por assim dizer, um mata-mosquito da SUCAM, em Alagoinhas, e todos os fins de semana gastava o talco da sinuca de Chiquito, contando as novidades das civilizações.
Dedê, embora ninguém desconfiasse, era um cidadão importante em outras plagas. Se bem que, naquela época, o Junco mantinha encasulado os seus ilustres cronistas, escritores, poetas e artistas. Dedê era um free lance do jornalismo, um dublê de don juan – se não o próprio. Era um bon vivant, um especialista em belas mulheres.
Humberto Vieira era famoso, muito embora, naquele tempo, o Junco não desfrutasse de antenas de tevê para ver os créditos de um junquês no jornalismo da Globo. Foi longe e morreu perto, sem que ninguém lhe rendesse uma última homenagem na capela do Campo Santo.
Jaldas foi um herói. Embora ninguém soubesse, salvou muitas vidas, levando o povo para atendimento médico em Alagoinhas e Salvador. Naquele tempo o Junco não conhecia sequer um atendente de enfermagem e os doentes se serviam da velha Rural Wyllis da Prefeitura, que era improvisada como ambulância. E Jaldas, chovesse ou fizesse sol, de dia ou de noite, nunca fez cara feia para enfrentar o cascalho em caso de necessidade. O mesmo digo de Wilson, nos tempos em que ele era motorista da prefeitura.
Lindenberg, Dedê, Humberto, Jaldas, Wilson, famosos anônimos e mais uma miríade de heróis desconhecidos, sem que o Junco de hoje nada seria sem a humilde e decisiva participação deles. Cito alguns, como os sermões do padre Edson que decidiam eleições, a voz de barítono de Maria de Venâncio que emoldurava as missas solenes, o querosene da venda de Nelo, o qual sem ele as noites não teriam luz; o “pindura” na venda de Luiz de Roxinho, que era pago de safra em safra e o pão gostoso da padaria de Josias Cardoso. Quem se lembra da picareta de Negão cavando valetas debaixo de um sol escaldante para levar água encanada às casas das boas famílias? Negão era tão útil e ao mesmo tempo tão anônimo que ninguém sabia o seu nome. Era, simplesmente, “Negão”.
Que roceiro sobreviveria sem os préstimos do fole de Ozinho e de Bidô? E Zé da Perninha, conhecido também como Zé da Butica, uma mistura charlatânica de farmacéutico, enfermeiro, parteiro e médico. Quem haverá de negá-lo?
Cultuemos, pois, nossos heróis de hoje, sem, no entanto, esquecermos dos nossos heróis de outrora. No presente caso, não vale parodiar a máxima: “Herói morto, herói posto”. O presente estará sempre fincado sobre os alicerces do passado. E ninguém poderá mudar tal ordem.
Publicado no jornal “Gazeta Voz Ativa”.
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